César Mauricio Giraldo é o fundador e diretor do Grupo Gher, uma empresa que oferece consultoria em direito esportivo e transferências.
A alta do dólar, assim como a queda do peso, são fatores que têm afetado a indústria esportiva, principalmente no mercado de transferências, que tem crescido na Colômbia. Segundo explicou César Mauricio Giraldo, diretor e fundador do Grupo Gher, firma que realiza consultoria em transferências internacionais, o país é o terceiro maior exportador de jogadores do mundo, apesar da conjuntura atual.
Como funciona o mercado de transferências na Colômbia e na região?
A Colômbia é um país exportador de jogadores. Na verdade, no último relatório da Fifa, somos o terceiro país que mais exporta jogadores no mundo. Existem muitas regiões no país com muito talento, e os olheiros são os responsáveis por encontrar os jogadores e contratá-los através de um clube profissional, o que já configura uma transferência. Desde a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a indústria mudou significativamente e trouxe uma renda adicional ao futebol colombiano, considerando que um clube de futebol é uma empresa que tem outras fontes de renda importantes, como direitos televisivos e patrocinadores.
Essas transações se encaixam no mundo de fusões e aquisições?
Não exatamente as transferências. Muitas pessoas querem trabalhar no mundo do futebol a nível regional e procuram adquirir seu próprio clube esportivo, onde essa figura entra em vigor. Na Colômbia, estamos muito avançados nesse aspecto porque, desde 2011, investidores têm buscado adquirir clubes de futebol. Um exemplo disso é o fundo Amber Capital, que adquiriu o Millonarios Fútbol Club em 2012, o que foi um investimento interessante no clube. Geralmente, são observadas mudanças na direção dos clubes, o que também está relacionado aos investidores.
Como está esse panorama a nível internacional?
O mercado está se movendo consideravelmente, pois grandes franquias esportivas estão adquirindo muitos clubes ao redor do mundo. Já existem grupos e fundos de investimento que podem ter entre sete e dez clubes globalmente. Esse futebol moderno está mudando o modelo de negócios e é entre esses clubes que ocorrem as transferências e empréstimos mais relevantes.
Como especialistas em transferências, quais são os fatores a serem considerados para essas consultorias?
O primeiro passo é considerar o tipo de transferência a ser realizada. Pode ser um empréstimo, transferências definitivas ou com opção de compra, portanto, é necessário ser muito meticuloso com os contratos. Algo que deve ser revisado é a questão tributária, muitas vezes as pessoas envolvidas nas transferências ignoram esse fator e acabam pagando mais impostos do que deveriam, considerando as leis de cada país. Portanto, esses negócios devem levar em conta a legislação de cada país e estar alinhados com as regulamentações da Fifa, que se aplicam às 211 associações em todo o mundo.
Esses contratos são uma história bem contada e isso precisa ser muito claro, porque um dos grandes problemas da indústria esportiva são os grandes litígios internacionais decorrentes de contratos mal redigidos, que embora tenham muitas particularidades, devem ser muito bem assistidos.
Qual é a diferença entre a consultoria em transferências e empréstimos?
A participação econômica entre as partes é fundamental. Existem regulamentações que determinam que uma certa porcentagem deve ser concedida ao jogador ou ao seu representante. Em ambos os casos, é necessário avaliar onde o negócio está sendo feito, pois nem sempre é possível fixar um valor em dólares e realizar a transação. Por isso, insisto, a questão dos contratos é fundamental, pois muitas vezes é alegado que o custo de monetização não está incluído, por exemplo. Por isso, hoje em dia, a questão cambial é prioritária no mundo do esporte.
Nesse sentido, como a alta do dólar afeta as transferências internacionais e as cláusulas dos contratos?
É um assunto complexo. Atualmente, estamos assessorando um técnico estrangeiro que vive na Colômbia e cujo contrato foi estabelecido em dólares, mas devido à volatilidade do dólar, tivemos que modificar essa cláusula. A situação atual não é positiva para o mercado de futebol, pois os estrangeiros também não estão interessados em receber em pesos colombianos, algo que também ocorre com frequência na Argentina. Por outro lado, entramos no mercado americano há três anos e geralmente não há nenhum problema quando estamos dentro do mercado dos Estados Unidos, mas quando vamos para o mercado latino-americano, a situação se complica devido aos custos. Por isso, estabelecemos que os negócios sejam em dólares.
Quais inovações em tecnologia o Grupo Gher trouxe para as consultorias?
Antes da Covid, realizávamos diferentes cursos e palestras sobre direito esportivo em vários países, como México, Peru e Argentina. Após a pandemia, passamos para o cenário digital, onde oferecemos três cursos, que foram um piloto, para lançar a plataforma em dezembro, que terá, além de consultoria em direito esportivo, a possibilidade de explorar o marketing nesse campo com profissionais.
Antecedentes
Segundo Giraldo, o grupo realizou várias consultorias com alguns dos times mais relevantes do país, bem como ligas internacionais como Estados Unidos, Equador, Peru, Guatemala, entre outros. Entre seus clientes mais significativos estão Atlético Nacional, Atlético Bucaramanga, Alianza Petrolera, Binacional do Peru, além de consultorias para a Liga Equatoriana de Futebol em instâncias internacionais perante a Fifa. Além disso, o grupo assessorou transferências de até US$250 milhões.
Santiago Diaz Gamboa sdiaz@larepublica.com.co
Extraído de: www.asuntoslegales.com.co